sexta-feira, 14 de setembro de 2007

René Descartes

Filósofo, cientista e matemático francês, René Descartes é conhecido como "o pai da filosofia moderna". Descartes tentou direcionar o estudo da filosofia para uma nova direção, recusando-se a aceitar os pensamentos que predominavam na época. Suas contribuições revolucionaram o estudo da filosofia.

Descartes nasceu em La Haye, na França, filho de uma família nobre. Foi educado na Universidade Jesuíta de La Flèche, em Anjou, onde aprendeu matemática e filosofia, além dos tradicionais estudos clássicos. Sob a influência dos jesuítas e devido ao cenário na França, o catolicismo exerceu uma grande influência sobre Descartes ao longo de sua vida.
Após terminar a escola, Descartes estudou direito na Universidade de Poitiers, tendo se formado em 1616. Porém, ele nunca exerceu a profissão.

René Descartes morreu de pneumonia no dia 11 de fevereiro de 1650 em Estocolmo, Suécia, onde ele estava trabalhando como professor a convite da Rainha. Acostumado a trabalhar na cama até meio-dia, sua saúde por ter sofrido com as demandas da Rainha Christina - começavam seus estudos às 5 da manhã. Como um católico num país protestante, ele foi enterrado num cemitério de crianças não batizadas, em Adolf Fredrikskyrkan em Estocolmo. Depois, seus restos foram levados para a França e enterrados na Igreja de São Genevieve-du-Mont em Paris. Um memorial construído no século XVIII permanece na igreja sueca.

Considerações gerais sobre o cartesianismo

O pensamento de Descartes exercerá uma influência vasta no mundo cultural francês e europeu, diretamente até Kant e indiretamente até Hegel. E exerceu tal influência não tanto como sistema metafísico, quanto especialmente pelo espírito crítico, pelo método racionalista, implícito nas premissas do sistema e realizado apenas parcialmente pelo filósofo.

O desenvolvimento lógico do cartesianismo é representado por alguns grandes pensadores originais: Spinoza, Malebranche, Leibniz. Spinoza é a mais coerente e extrema expressão do racionalismo moderno depois do fundador e antes de Kant; Malebranche e Leibniz encontram, ao contrário, nas suas preocupações práticas, religiosas e políticas, limitações ao desenvolvimento lógico e despreocupado do racionalismo.

Ladeia estes três pensadores uma turma numerosa de cartesianos mais ou menos ortodoxos, particularmente na França na segunda metade do século XVII. Significativa é a influência que o criticismo e o racionalismo cartesianos exerceram sobre a cultura do século de Luís XIV, o século de ouro da civilização francesa; sobre a arte de Racine e de La Fontaine, sobre a poética de Boileau, a ética de La Bruyère, o pensamento de Bayle.

Descartes teve seguidores também em determinados meios religiosos de orientação platônico-agostiniana, mais ou menos ortodoxos. Os dois centros principais desse sincretismo são representados pelo Jansenismo e pelo Oratório. Brás Pascal, porém (se bem que, em parte, jansenista), grande físico e matemático, mas de um profundo sentimento religioso e cristão, parece ter tido intuição da falha da filosofia cartesiana. À razão matemática, científica - espírito geométrico - que vale para o mundo natural mas não chega até Deus, contrapõe a razão integral - esprit de finesse - que leva até o cristianismo.

Descartes teve numerosos adversários e críticos no campo filosófico, entre os quais Hobbes. Entretanto, as oposições maiores contra o cartesianismo surgiram evidentemente no ambiente eclesiástico e político, quer católico quer protestante. Nesses ambientes houve a intuição de um perigo revolucionário para a religião e a ordem social, por causa do criticismo, mecanismo e infinidade do universo, próprios daquela filosofia.

E, no entanto, o cartesianismo forjou a mentalidade (racionalista-matemática) dos maiores filósofos até Kant. E também propôs os grandes problemas em torno dos quais girou a especulação desses filósofos, a saber: a relação entre substância finita de um lado, e entre espírito e matéria do outro. Daí surgiram o ontologismo e o ocasionalismo de Malebranche, a harmonia preestabelecida de Leibniz e o panteísmo psicofísico de Spinoza.

Nas postagen abaixo, está um pouco sobre Spinoza, Malebranche e Leibniz.

Baruch Spinoza

O racionalismo cartesiano é levado a uma rápida, lógica, extrema conclusão por Spinoza. O problema das relações entre Deus e o mundo é por ele resolvido em sentido monista: de um lado, desenvolvendo o conceito de substância cartesiana, pelo que há uma só verdadeira e própria substância, a divina; de outro lado introduzindo na corrente racionalista-cartesiana uma preformada concepção neoplatônica de Deus, a saber, uma concepção panteísta-emanatista. O problema, pois, das relações entre o espírito e a matéria é resolvido por Spinoza, fazendo da matéria e do espírito dois atributos da única substância divina. Une os dois na mesma substância segundo um paralelismo psicofísico, uma animação universal, uma forma de pampsiquismo. Em geral, pode-se dizer que Descartes fornece a Spinoza o elemento arquitetônico, lógico-geométrico, para a construção do seu sistema, cujo conteúdo monista, em parte deriva da tradição neoplatônica, em parte do próprio Descartes.

Os demais racionalistas de maior envergadura da corrente cartesiana se seguem, cronologicamente, depois de Spinoza; entretanto, logicamente, estão antes dele, pois não têm a ousadia - em especial Malebranche - de chegar até às extremas conseqüências e conclusões racionalista-monista, exigidas pelas premissas cartesianas, detidos por motivos práticos-religiosos e morais, que não se encontram em Spinoza. Com isto não se excluem, por parte deles, desenvolvimentos em outro sentido. Por exemplo, não se excluem os desenvolvimentos idealistas do fenomenismo racionalista por parte de Leibniz.

A teologia de Spinoza é contida, substancialmente, no primeiro livro da Ethica (De Deo). Spinoza quereria deduzir de Deus racionalmente, logicamente, geometricamente toda a realidade, como aparece pela própria estrutura exterior da Ethica ordine geometrico demonstrata. Não nos esqueçamos de que o Deus spinoziano é a substância única e a causa única; isto é, estamos em cheio no panteísmo. A substância divina é eterna e infinita: quer dizer, está fora do tempo e se desdobra em número infinito de perfeições ou atributos infinitos.

Desses atributos, entretanto, o intelecto humano conhece dois apenas: o espírito e a matéria, a cogitatio e a extensio. Descartes diminuiu estas substâncias, e no monismo spinoziano descem à condição de simples atributos da substância única. Pensamento e extensão são expressões diversas e irredutíveis da substância absoluta, mas nela unificadas e correspondentes, graças à doutrina spinoziana do paralelismo psicofísico.

Nicolau Malebranche

Com Spinoza, o racionalismo cartesiano entra em síntese com o panteísmo neoplatônico. Com Malebranche, o cartesianismo entra em síntese com o agostinianismo, sobre a base de um inicial platonismo comum. Mas, ao mesmo tempo, sofre um regresso sobre a linha do seu lógico desenvolvimento panteísta e racionalista, devido ao teísmo e ao cristianismo que Malebranche se esforça por conciliar com o cartesianismo.

Dos dois problemas fundamentais deixados em herança por Descartes (relações entre Deus e mundo, entre espírito e matéria), Spinoza resolvera o primeiro mediante o seu rígido monismo da substância; o segundo, mediante o famoso paralelismo dos atributos extensão e pensamento na substância. Malebranche, pelo que diz respeito ao primeiro problema, chega a conceber Deus como causa única, entretanto não ousa afirmá-lo como substância única; pelo que diz respeito ao segundo, nega também ele - como Descartes e Spinoza - toda interação entre espírito e matéria, e também ele recorre a Deus para explicar as relações entre o espírito e a matéria.

Como Descartes e o conseqüente racionalismo, o pensamento de Malebranche desvaloriza o conhecimento sensível, especialmente os sentidos externos e atribui às idéias todo o valor do conhecimento. Pisando as pegadas de Agostinho e de Descartes, declara as idéias eternas e imutáveis, claras e distintas e, portanto, verdadeiras objetivamente. Visto essas idéias serem necessárias e universais, não só não podem derivar da sensação, mas nem sequer ser produzidas pelo espírito humano, como a sensação, é particular e contingente. As idéias, pois, nada mais são que o próprio objeto inteligível presente ao nosso pensamento: são idéias ontológicas, exteriores ao sujeito que conhece, a saber, são os arquétipos eternos e imutáveis, necessários e universais, das coisas; tais idéias estão na mente de Deus e nele nós temos a intuição delas (ontologismo). Esta visão é possível porque Deus está intimamente presente ao nosso espírito e lhe pode revelar a sua essência porquanto é comunicável. Em outras palavras: nós vemos, não propriamente a Deus, mas apenas o que há nele de imitável.

Guilherme Leibniz

Spinoza tentou a síntese do racionalismo cartesiano com o panteísmo neoplatônico; Malebranche tentou a síntese do racionalismo com o platonismo agostiniano; Leibniz tentará uma síntese mais vasta, a do pensamento aristotélico-tomista com o empirismo moderno. Diversamente de Spinoza e de acordo com Malebranche, procurará compor a necessidade racionalista-matemática com a contingência e a liberdade. E chegará também à negação da realidade material, da res extensa, resolvendo a realidade material em uma aparência fenomênica do espírito. O resultado é que a necessidade universal permanece, e, logo, também o panteísmo; e que, com a supressão do mundo físico, o racionalismo abre as portas ao idealismo.

O pensamento de Leibniz é fundamentalmente representada pela ciência geral ou lógica universal; esta deve proporcionar o método para inventar e demonstrar todas as ciências. A realidade apresenta-se indiscutivelmente sob dois aspectos: um idêntico, universal, necessário, e o outro diverso, particular, contingente. Leibniz distingue, portanto, as verdades de razão (juízos necessários de essência), que colheriam o primeiro aspecto da realidade, e as verdades de fato (juízos da existência contingente), que colheriam o segundo aspecto.

As verdades de razão fundamentam-se sobre o princípio de indentidade, imediatamente evidente, isto é, tais verdades reduzíveis a juízos, em que o predicado tem identidade com o sujeito, se pode ser tirado analiticamente dele. As verdades de fato seriam representadas por juízos de experiência, em que o predicado não se pode extrair analiticamente do sujeito; teria, porém, um fundamento, o princípio de razão suficiente na realidade criada.